segunda-feira, 30 de julho de 2012

Invisibilidade Social: Um processo psicossocial


Invisibilidade Social foi um termo ficou bastante conhecido na psicologia brasileira após a publicação do relato do Dr. Fernando Braga da Costa, em seu livro “Homens Invisíveis: Relatos de uma humilhação social”, do tempo em que, para fazer sua pesquisa de graduação na USP, em psicologia social II, se vestiu de gari no campus universitário e foi trabalhar com os mesmos.

O que era para ser apenas uma simples pesquisa ou mesmo aventura universitária se tornou no relato de um grande fenômeno psicossocial que não era percebido da maneira adequada: A invisibilidade social (ou pública como o autor cita).

Fernando Braga da Costa percebeu que o uniforme de gari e a vasoura em sua mão lhe portavam muito mais do que o estatus de trabalhador braçal, mas lhe legavam a invisibilidade pública. Seus colegas de graduação, professores e demais conhecidos, não o reconheciam, e nem sequer olhavam para ele quando estava vestido com o uniforme de gari, porém, reconhecendo-o normalmente quando este estava sem o uniforme. Tal fenômeno o intrigou e o fez ficar por meses junto com os garis, trabalhando e vivendo como estes. Seus relatos deram fim ao seu livro que narra os relatos da invisibilidade pública que algumas pessoas estão sujeitas.

Segundo Costa (2004) “a invisibilidade pública – espécie de desaparecimento psicossocial de um homem no meio de outros homens” (p. 54), sendo assim, para com os outros uma percepção social minada.

O autor (2004) continua discorrendo sobre o tema

A invisibilidade pública, desaparecimento intersubjetivo de um homem no meio de outros homens, é expressão pontiaguda de dois fenômenos psicossociais que assumem caráter crônico nas sociedades capitalistas: Humilhação social e reificação. (p. 63)

Ou seja, o autor coloca a invisibilidade pública como expressão/produto de dois fenômenos típicos do mundo capitalista: A humilhação social – Subjugar com violência psicológica a subjetividade de um sujeito à de outro sujeito. E o processo da reificação – O homem é aquilo que ele produz, e a forma de tratamento das relações humanas segue um processo mercadológico.

Tais conclusões do pesquidor levam-nos à reflexão diária das cenas em que passamos e nem ao menos nos damos conta: Da forma como ignoramos o transeunte, o mendigo, o gari, motorista de ônibus, e todos os demais que ‘nada produzem’ para conosco.

A invisibilidade pública é uma construção psíquica e social. Nessas circunstâncias, muita violência e verdade amortecidas contam como ingredientes que impedem a compreensão da invisibilidade pública como signo de luta social, uma luta de classes. A invisibilidade pública, dessa maneira, não aparece como sintoma social, cristalização histórica de um desencontro, mas pode apresentar-se à consciência como fato natural. (Costa, 2004, p. 162).

Sendo assim, a invisibilidade social é um fenômeno psicossocial pelo qual um sujeito é intersubjetivamente apagado por outro. É um processo onde o ser é tornado invisível por sua “insignificância ou irrelevância social”.

Referência
Costa, F. B. (2004). Homens invisíveis: Relatos de uma humilhação social. São Paulo: Globo.

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